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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O Aeroporto de Ovibeja



O Tribunal de Contas arrasou o Aeroporto de Beja. Parece apropriado. Se uma torre tem de se erguer dos caboclos, num aeroporto é preciso arrasar. E arrasar era o que os promotores pretendiam. Impulso ao turismo, entreposto de continentes, estação de abastecimento de vaivéns a caminho de Marte, a imaginação tem asas como as palavras, não há machado que corte. Mas o Dr. Oliveira Martins, aquele socialista que o PM nunca conseguiu morder no pescoço e portanto permanece impoluto e imparcial, sanguinho limpo nas veias, terraplanou o aeroporto, porque a Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja pouco mais fez, em dez anos e 75 milhões de euros, que terraplanear. E mal, mesmo assim. Não há plano de negócio, não há operadores interessados, não há acessibilidades. Mesmo a pista, para aguentar com aviões de médio curso, tem de levar um reforço de mais 8 milhões. A Empresa de Subdesenvolvimento do Terroporto de Beja, esclareça-se, é uma empresa pública constituída sob a forma de sociedade anónima. Uma pública anónima portanto. Anónima mas pública. Género homossexual degenerado que só curte sexo oposto. Arranha-céus subterrâneo. Papa ateu. Brinde pago. Pública e anónima, portanto. Uma espécie de SCUT de patas para o ar: uma pista existencial, mas não existente, com custos para o utilizador. A EDAB nem conseguiu segurar os chineses que queriam fazer de Beja a placa giratória de bugigangas chinas para África e América Latina. Desinteressaram-se. Porquê. Uma chinesice: porque o aeroporto não estava a funcionar. Nem com paciência de chinês. E esta obra, que tanta falta fazia ao interior alentejano. Beja é assim uma espécie de Bragança do Sul, um nome que só fica no ouvido porque nos lembramos da Ovibeja. O que levou o Presidente da Câmara, o Sr. Pulido Valente, qual Fernão Capelo Gaivota, a afirmar que o Tribunal de Contas não percebe nada do assunto e compromete o desenvolvimento da região. Maldito Mr. Bean, imagina-se que terá dito  Presidente sobre Presidente. Só lhe interessam contas. Totalmente incapaz de voar, sonhar, acreditar, descolar. Polido, mas valente, o edil ovibejense parece o Poeta que também ninguém calará, que queria afugentar o FMI de pena em riste mas se viu forçado a uma aterragem forçada que já vai nos 15%, enquanto vê elevar-se nos céus dos 80% o outro que só pensa em contas. País pequenino e mesquinho que só pensa em dinheiro enquanto nós, visionários, nos preocupamos com o bem-estar das populações de boys. Se o Camões tivesse pedido para fazer um aeroporto, respondiam-lhe, tá bom, a gente publica-lhe a merda do livro, mas aeroporto, não, caramba. Como é que um país assim pode descolar. E estamos nisto, só porque um Presidente dum Tribunal de Contas tem os pés bem assentes na terra. Agora uma empresa pública anónima tem de fazer a obra em menos de dez anos, e a pista tem de dar para aterrar aviões. Aterrador.