terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
O Aeroporto de Ovibeja
O Tribunal de Contas arrasou o Aeroporto de Beja. Parece apropriado. Se uma torre tem de se erguer dos caboclos, num aeroporto é preciso arrasar. E arrasar era o que os promotores pretendiam. Impulso ao turismo, entreposto de continentes, estação de abastecimento de vaivéns a caminho de Marte, a imaginação tem asas como as palavras, não há machado que corte. Mas o Dr. Oliveira Martins, aquele socialista que o PM nunca conseguiu morder no pescoço e portanto permanece impoluto e imparcial, sanguinho limpo nas veias, terraplanou o aeroporto, porque a Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja pouco mais fez, em dez anos e 75 milhões de euros, que terraplanear. E mal, mesmo assim. Não há plano de negócio, não há operadores interessados, não há acessibilidades. Mesmo a pista, para aguentar com aviões de médio curso, tem de levar um reforço de mais 8 milhões. A Empresa de Subdesenvolvimento do Terroporto de Beja, esclareça-se, é uma empresa pública constituída sob a forma de sociedade anónima. Uma pública anónima portanto. Anónima mas pública. Género homossexual degenerado que só curte sexo oposto. Arranha-céus subterrâneo. Papa ateu. Brinde pago. Pública e anónima, portanto. Uma espécie de SCUT de patas para o ar: uma pista existencial, mas não existente, com custos para o utilizador. A EDAB nem conseguiu segurar os chineses que queriam fazer de Beja a placa giratória de bugigangas chinas para África e América Latina. Desinteressaram-se. Porquê. Uma chinesice: porque o aeroporto não estava a funcionar. Nem com paciência de chinês. E esta obra, que tanta falta fazia ao interior alentejano. Beja é assim uma espécie de Bragança do Sul, um nome que só fica no ouvido porque nos lembramos da Ovibeja. O que levou o Presidente da Câmara, o Sr. Pulido Valente, qual Fernão Capelo Gaivota, a afirmar que o Tribunal de Contas não percebe nada do assunto e compromete o desenvolvimento da região. Maldito Mr. Bean, imagina-se que terá dito Presidente sobre Presidente. Só lhe interessam contas. Totalmente incapaz de voar, sonhar, acreditar, descolar. Polido, mas valente, o edil ovibejense parece o Poeta que também ninguém calará, que queria afugentar o FMI de pena em riste mas se viu forçado a uma aterragem forçada que já vai nos 15%, enquanto vê elevar-se nos céus dos 80% o outro que só pensa em contas. País pequenino e mesquinho que só pensa em dinheiro enquanto nós, visionários, nos preocupamos com o bem-estar das populações de boys. Se o Camões tivesse pedido para fazer um aeroporto, respondiam-lhe, tá bom, a gente publica-lhe a merda do livro, mas aeroporto, não, caramba. Como é que um país assim pode descolar. E estamos nisto, só porque um Presidente dum Tribunal de Contas tem os pés bem assentes na terra. Agora uma empresa pública anónima tem de fazer a obra em menos de dez anos, e a pista tem de dar para aterrar aviões. Aterrador.
Merkel
A Sra. Merkel tem de perceber que, se Portugal deixar de comprar BMs e Audis ao ritmo dos últimos anos, a economia alemã não se aguenta.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Fim de Conversa
– Tens de ter sempre a última palavra! – disse ela, pondo, como habitualmente, fim à discussão.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
SôZé
– Por falar em desempregados, SôDalai, qual é a sua previsão para o Hapoel-Benfica?
– É uma carta fechada, SôZé. O Jesus disse que só precisava de um grande empurrão dos adeptos, e estou convencido de que vai tê-lo.
– O Benfica é um manancial para si, SôDalai.
– SôZé, já desde o Bergson, pelo menos, que se sabe que o humor só trata das grandes questões humanas: o sexo, a religião, a morte.
– E o Benfica?
– O Benfica é isso tudo junto.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Anjos e Demónios
Naquele tempo, acercou-se de Jesus um homem e implorou-lhe: «Rabi, expulsa o demónio da minha mulher!» Mas Jesus respondeu-lhe: «Não separe o Homem o que Deus uniu».
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
SôZé
– E o jogo, SôDalai?
– Maravilhoso. Senti-me como se ligassem o ar condicionado de repente no Inferno.
– Pena foi aquele golo soberbo anulado ao Ronaldo. O resultado correcto era 5-0.
– Devo dizer que percebo a intenção do árbitro.
– Como?!
– Quis evitar mais piadas sobre o Benfica.
Blindados
Ministro da Administração Interna invoca restrições ao trânsito na zona da Expo para justificar atraso na chegada de veículos blindados para Cimeira da Nato.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Caim Caim Caim
Diálogo às portas do Céu:
S. Pedro: Eh pá, como é que tu escreveste aquilo do «Caim»?
Saramago: Foi sem crer, S. Pedro...
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Crónicas Agudas - Tugrafias
Hoje vou falar de Fotografia. A Fotografia, como sabe qualquer indígena duma tribo remota cujo nome nunca me ocorre, rouba e captura o espírito do retratado, pelo que deve ser praticada com a máxima parcimónia e o respeito que é devido. Tal como não se deve puxar o fio que prende a porta da armadilha senão quando o tigre, ou pelo menos o coelho, está dentro da gaiola, também o botão da máquina não deve ser premido com leviandade. O que é demais é pecado, ou pelo menos peca por excesso, e qualquer fotógrafo que dispare mais que meia dúzia de vezes por hora fotógrafo não é, a não ser que o seja de corridas de automóveis. Por isso é que, duzentos e trinta anos passados, ainda não vi as fotos do meu casamento. E muito menos o vídeo, meu Deus, para mim vídeo é fotografia histérica, mas não, não vi nem as fotografias. E não há mal nenhum nisso.
Há uns anos, fui ao Louvre e, como talvez se compreenda, fiz questão de ver a Mona Lisa, a do Da Vinci, que a minha vejo-a todos os dias ao espelho, e o seu sorriso de quem acaba de saber que lhe ofereceram um livre-trânsito para um parque aquático na Noruega, válido de Janeiro a Fevereiro. E mal consegui ver o dito famoso sorriso, porque aqueles japonezinhos insuportáveis que pululam no Louvre se revezavam para posar à frente da Gioconda, exibindo em sorriso alarve o corta-palha, e trocando logo de seguida de posição com os seus comparsas, agora vens para aqui tu, e disparo eu. Ainda lhes perguntei se não queriam que fosse eu a disparar, que os conseguia apanhar duma vez a todos, mas não atingiram a ironia. Curiosamente, os cerca de 5000 que observei durante dez minutos nunca uma só vez olharam para o quadro. Para quê, se já tinham a Mona Lisa aprisionada na Nikon?
Agora com os telemóveis, o que era genocídio transformou-se em hecatombe e a câmara em câmara de gás. Já ninguém perde tempo a observar a Vida, saboreando enquadramentos como quem escolhe um robalo no mostruário. Pratica-se pesca de arrasto. Dispara-se contra tudo o que mexe e, mais cabeça cortada menos cabeça cortada, alguma coisa há-de ficar para mais tarde recordar, olha amor, que imbecis acéfalos que nós éramos. Deixa estar, amor, que tu ainda és. Não é bonita, a fotografia?
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Pena da Águia
«É verdade que o nosso adversário directo ganhou 5-0 e nós só 4-0, mas é preciso ver que eles jogaram contra uma equipa muito mais fraca do que nós.» - Jesus
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Crónicas Agudas - Hipermarcados
Parece que têm estado a chegar à Europa, vindos do Iémene, tinteiros de impressora armadilhados e prontos a explodir. Nada que nos deva surpreender. Eu sempre disse que esta história de impressoras laser multifunções a 60 euros trazia água no bico. É como o Programa Novas Oportunidades e o Rendimento Social de Inserção e o Subsídio de Desemprego. A malta inscreve-se, anda seis ou sete anos a viver à pala, tudo bem, e um belo dia dizem-nos que agora temos mesmo de aceitar os trabalhos que nos proponham, quaisquer trabalhos que nos proponham, mesmo trabalhos mal pagos como caixas de supermercado ou administradores da Ongoing, caso contrário deixamos de receber o guito. Estas empresas que vivem do marketing enganoso, como a HP e o IEFP, criam-nos hábitos de consumo mínimo obrigatório, mas o que querem é ter-nos na mão. O que é que a gente pode fazer? Retrair-se? Deixar de consumir? Reagir? Nada. Estamos nas mãos dos mercados, isso é sabido, mas podemos ripostar, baralhando-os, consumindo ainda mais, rebentando-lhes com os stocks. Estamos hipermarcados, é verdade, agora até ao domingo e dias santos de guarda, somos arrancados à quietude do lar, onde assistíamos plácidos à bola na Sport TV. Fazemos um bed-in como o Lennon e a coisa? Nada disso! Levantemo-nos, arrastemos a família e o cão e o canário, e vamos marcar posição, circular em magotes entre as prateleiras, a estimular a procura interna. Tem de haver mais do que isto, dirão os velhos do Restelo? Tem. Se chegámos até aqui, porque não abrir também à noite? Ou exigir que entre as múltiplas funções dos multifunções se incluam, por exemplo, funcionalidades de Internet? Porque não televisão 4D? Autoclismos equipados com Canal Parlamento? Ou smart phones de pulso, vinde a mim os pequeninos? It’s all in the mind, you know. Não tentem impedir-nos de nos exprimir. Não percam tempo com minudências como os juros da dívida soberana. Se é soberana, ela que se governe. A nós cabe explorar novos mundos e, se for preciso que um tinteiro nos expluda nas mãos quando estamos a imprimir o calendário da Pirelli, paciência. Mandem mais, a ver se a gente se acanha. O mundo não pode parar só porque não temos os rácios em dia. Vamos sair de casa, que ainda não é hoje que é sexta-feira 13. Vamos fazer explodir as cotações do PSI 20. Vamos sair de casa. Hoje é dia de mercado.
SôZé
– Lindo, SôDalai.
– Só me apetece chorar, SôZé.
– De alegria?
– Sim, claro, da epifania. Mas também de raiva, por outro ter dito a frase que eu quisera ter balbuciado. É como, no último momento, ver roubada a mulher desejada, ver fugir-nos por entre os dedos a mulher que sabemos nos estava destinada.
– Compreendo. Em que contexto é que ele disse isto?
– O que é que interessa o contexto, SôZé? As palavras andavam aí, luva, bola, toucinho, velocidade, quais estrelas errantes no cosmos, e o génio de Machado ligou tudo numa galáxia cujo brilho não podemos contemplar olhos nos olhos. Confundir a luva com a bola é como confundir o toucinho com a velocidade. Meu Deus. Como isto é bom.
– Resistiu à tentação da rima fácil.
– Ou às comparações óbvias, como toucinho e couratos. Toda a gente sabe que toucinho e velocidade são coisas diferentes, bom, quase toda a gente, em todo o caso. Mas faudrait y penser.
– Faudrait y penser indeed.
– Faudrait y penser indeed.
– É isto que me faz viver, SôDalai.
– Eu não sou o SôDalai, sou o SôZé, SôDalai, o SôDalai é que é o SôDalai, SôDalai.
– Desculpe. Estou fora de mim.
– Compreende-se perfeitamente.
Toucinho
«Confundir a luva com a bola é a mesma coisa que confundir o toucinho com a velocidade.» - Manuel Machado
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Antropófagos
Conversa entre antropófagos
Ela: Diz‑me porque me estás sempre a mordiscar.
Ele: Tu sabes bem.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Palavras Cruzadas
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Outro dia descobri que um amigo de há muitos anos partilha comigo uma dependência. Isto podia ser um belo começo para um romance gay mas, como saberão, esse tema não faz o meu género, muito pelo contrário.
Outro dia descobri que um amigo de há muitos anos partilha comigo uma dependência. Isto podia ser um belo começo para um romance gay mas, como saberão, esse tema não faz o meu género, muito pelo contrário.
O que se passa é que, segundo parece, não sou o único intraterrestre que, ao dar consigo num quarto-de-banho, em posição de não recuo e longe de qualquer livro, revista ou jornal, lança mão ao que tiver à dita, nem que seja um rótulo duma embalagem de antipirético. Não é à toa que aquilo que hoje se designa posologia se designava não há tanto tempo como isso literatura médica. Não é assim necessário recorrer a Fernando Namora, Miguel Torga ou Lobo Antunes para alimentar o espírito quando o corpo tem disposição oposta. E quando não se divisa medicamentos, e não há outro remédio, recorre-se a rótulos de latas de spray da barba. É claro que mesmo esses já viram melhores dias. Assiste-se hoje, como em toda a restante literatura, a uma degradação da qualidade do texto, com uma mistura inaceitável entre português, inglês, latim e química. E deparamo-nos muitas vezes com erros ortográficos óbvios, como fragância ou recepiente. Já não falando no texto em alemão, que é um chorrilho pegado, onde é vulgaríssimo encontrar sonnenbestralung em vez de sonnenbestrahlung ou entzundliche em lugar de entzündliche. Voltaremos ao trema.
Há portanto uma diferença entre ter de ler e ter que ler. [Curiosamente, é a primeira vez que encontro algum sentido naquela regra, que me parecia abstrusa, das revisoras de texto (os revisores de texto são todos revisoras, como os educadores de infância são todos educadoras e as treinadoras de equipas femininas são todas treinadores), segundo a qual não se diz ter que ler, mas ter de ler, excepto quando o «que» é pronome, como aqui. O meu bem-haja por preservarem uma regra que, se não servir para mais nada, já serviu para ser aqui mencionada.] Ninguém devia ter de ler, todos deviam ter que ler. Ler não tem nada a ver com a marmelada costumeira de abrir novas oportunidades. Isso é para subir nas estatísticas sem saber ler. Ler é, sim, um vício hardcore de quarto-de banho. Ler não tem nada a ver com adquirir perspectivas diferentes da minha, tem, sim, a ver com o Sudoku já não dar luta, enquanto as palavras cruzadas vivem o seu apogeu desde que foram inventadas por Ricardo Coração de Leão quando sitiava, chateado que nem um peru, Saladino, sem que acontecesse porra nenhuma anos a fio. Alguém está interessado em abrir nos seus horizontes uma nesga onde arrume a noção de que o palateco é um animal ornamental que passa o dia a dormir? Não, queremos simplesmente saber as letras que faltam em p _ l _ t _ c o.
Ler, em resumo, é – desculpem, estão a tocar à porta. Escolhem sempre estes momentos. Parece que adivinham.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
SôZé
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- E o Orçamento, SôDalai?
– Que é que tem o orçamento?
– Ouviu o PM?
– Ouvi, o que é que ele disse?
– Que não tem medo de se submeter ao julgamento dos portugueses.
– Incluindo os portugueses que são juízes?
– E o Benfica, SôDalai?
– A história do jogo conta-se em poucas palavras: o Benfica dominou nos primeiros 60 minutos, mas depois encontrou-se.
– Isso.
– Foi um bom treino para o Dragom.
- Para vocês, ou para eles?
- Para eles. Como digerir expectativas.
- Disse diferir expectativas?
- Também, também.
- Disse diferir expectativas?
- Também, também.
– Acha que vai ser um jogo equilibrado?
– A avaliar pela última intervenção do Roberto, vão ser 10 contra 12.
– Diria que o Roberto é o vosso Kim Philby?
– O Roberto é o nosso Kim Philby. Essa é muito boa, SôZé. Gostava de ter sido eu a dizê-la.
– De certa maneira, foi.
– Paneleirices não, SôZé.
– Desculpe. Outra coisa, sabe que as consultas no Google disparam a seguir ao PDL?
– Não.
– Pois é. Está a trautear uma música, SôDalai? É o quê?
– «Gosto muito de você, lionzinho.» Do Caetano.
– Ah, claro.
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