– Lindo, SôDalai.
– Só me apetece chorar, SôZé.
– De alegria?
– Sim, claro, da epifania. Mas também de raiva, por outro ter dito a frase que eu quisera ter balbuciado. É como, no último momento, ver roubada a mulher desejada, ver fugir-nos por entre os dedos a mulher que sabemos nos estava destinada.
– Compreendo. Em que contexto é que ele disse isto?
– O que é que interessa o contexto, SôZé? As palavras andavam aí, luva, bola, toucinho, velocidade, quais estrelas errantes no cosmos, e o génio de Machado ligou tudo numa galáxia cujo brilho não podemos contemplar olhos nos olhos. Confundir a luva com a bola é como confundir o toucinho com a velocidade. Meu Deus. Como isto é bom.
– Resistiu à tentação da rima fácil.
– Ou às comparações óbvias, como toucinho e couratos. Toda a gente sabe que toucinho e velocidade são coisas diferentes, bom, quase toda a gente, em todo o caso. Mas faudrait y penser.
– Faudrait y penser indeed.
– Faudrait y penser indeed.
– É isto que me faz viver, SôDalai.
– Eu não sou o SôDalai, sou o SôZé, SôDalai, o SôDalai é que é o SôDalai, SôDalai.
– Desculpe. Estou fora de mim.
– Compreende-se perfeitamente.