– Não lhe chamo Grande Vate, SôZé. Chamo-lhe MegaVate. Um homem que sabe o número de cantos dos Lusíadas, que diabo!...
– Também conhecerá os cantos à casa, é isso?
– Leia-se, à Pátria.
– Leia-se. Mas olhe lá, não acha que já está tudo decidido?
– Nem pouco mais ou menos. O Grande Bardo Que Não Se Acobarda tem ainda muitas armas na manga.
– Nomeadamente?
– Nomeadamente, quando o Cavaco lhe fizer perguntas sobre questões pragmáticas, chãs, comezinhas, miseráveis, de economia, e assim, sei de fonte segura que ele vai contra-atacar pedindo-lhe exemplos de figuras de estilo nos Lusíadas. Prosopopeias, sinédoques, hipérbatos. Tunga. Vai buscar. Os assessores do PR, que sei que são de primeira água, não o prepararam para isso. Nem eles sabem, coitados.
– Portanto, não há previsões possíveis, SôDalai?
– Só as onopatopeias que o Grande Escriba Que Ninguém Cala soltará quando ouvir os resultados.
– Muito bem, vejamos então como corre o debate hoje à noite. E amanhã, ainda nos encontramos, SôDalai?
– Não, SôZé. O Governo decretou tolerância de ponto. E podemos admitir, por sinédoque, que haverá tolerância não só para o ponto, como também para a vírgula, e todos os outros signos.
– O que caracteriza esta quadra é a tolerância, não é, SôDalai?
– Isso. Resta-nos então fazer votos.
– E dia 23, ex-votos, em acção de graças por ainda haver um cavaco a boiar para nos agarrarmos quando o barco for ao fundo.
– E a tripulação seguir de iate para uma offshore. Bom, despedimo-nos então da Dalai Lista desejando um Ano Novo cheio de prosperidades.
– Antes isso que ser despedido até uma próxima prosperidade.
– Isso.
– Bom Ano, SôDalai.
– Bom Ano, SôZé.
– Bom Ano, DalaiLista.
– Logo ainda há Baú?
- Inda.