– Então,
SôDalai, e o que é que achou das exéquias do Eusébio?
– Muito bom.
Se não à altura do Rei, pelo menos à altura do povo. Com direito a Pérolas e
tudo.
– A sério?
Conte, conte!
– Repórter de
imagem na Segunda Circular a reportar faixas de circulação interditas à
circulação na ponte pendonal.
– Pendonal?
Muito bom. No fundo, uma ponte suspensa para peões. Mas suspensa é que ele não
está, até está a avançar estranhamente depressa.
– É o Lóbi de
Telheiras.
– Engraçada,
a expressão «faixas interditas». Faz lembrar as perspectivas de o Benfica
ganhar o Campeonato. Olhe lá, e o que é que achou das ideias do Orelhas para
homenagear o Eusébio?
– Gostei de
todas. O homem deve ter passado a noite em claro, porque hoje acordei com ele a
dar ideias luminosas para homenagear o Pantera Negra.
– Por
exemplo?
– Propôs um
ano de luto, com os jogadores a usar fumos. Xipça, eu nem sabia o que eram
fumos.
– Se calhar
eram fumos mesmo. Tá a ver, fumos, dos outros.
– Ah, isso
explicava muita coisa. Mas olhe lá, o homem fez-me disparar a imaginação.
– Não se
esqueça do que vai dizer. Eu também tenho uma Pérola para si. Um daqueles
guineenses apeados no aeroporto. Perguntam-lhe a opinião, e ele, vum: «Na minha
imaginação pessoal…»
– Lindo. Mas
estava eu a dizer, o Orelhas fez-me disparar a imaginação. E tenho uma série de
ideias para homenagear o Quingue.
– Chute,
– Então aqui
vai. Uma. O Orelhas tatua «Eusébio» nas bochechas. Duas. Durante um ano, as
crianças que nascerem em Portugal têm de se chamar «Eusébio», incluindo as
meninas. Três. O Djizaz fica obrigado a um ano de silêncio. Quatro. Eusébio é
feito Marechal. Cinco. O Canal 2 da RTP passa a ter uma emissão única 24/24 de
uma Webcam sobre a campa do Eusébio. Seis. No Estádio da Luz, que muda de nome
para Eusébio, passa a haver uma pira permanente cuidada por virgens vestais
presidida pela Dra. Assunção Esteves. Seis. Nas escolas, no sítio onde dantes
havia o crucifixo, passa a haver uma foto do Eusébio. Sete. O vermelho passa a
ser a cor oficial do luto. Oito. O Porto, o Sporting e a Académica são
irradiados do Campeonato para o Benfica ter hipóteses de homenagear o Rei
ganhando. Nono. António José Seguro imolado pelo fogo. Décimo. Portugal muda de
nome para Eusébio e recusa-se a pagar a dívida invocando a necessidade de
financiar a erecção de um novo Panteão Nacional onde O Rei possa jazer sozinho.
Que lhe parecem estas medidas?
– Comedidas.
Parecem-me uma bela homenagem à modéstia do Eusébio.
– Viva o
Eusébio, SôZé.
– Viva o
Eusébio, SôDalai. E que caia uma onda gigante que lave o Orelhas e os outros
como ele todos daqui para fora.
– Isso.