- Vinte anos, SôDalai. Já?
- O tempo é como o prazo das prescrições, SôZé, passa a correr.
- Como é que isto tudo começou?
- Julgo que foi uma vontade irreprimível que senti de exprimir aquilo
que me ia...
- Não, a sério.
- Ah, OK. Foi com o apuramento para o Europeu, com o Scolari.
- Dizem que foi talvez o maior falhanço do Dalai, não ter impedido as
duas derrotas com a Grécia, a última na final.
- Não me acicute, SôZé.
- Desculpe. E três livros publicados...
- O primeiro apresentado pelo meu Dalaitor mais ilustre e saudoso, o
Professor Barbosa de Melo...
- Que saudades. Grandes conversas, grande inspiração.
- Gigante. A única pessoa que não se riu de mim quando lhe dei o
original do primeiro livro a ver se ele queria fazer o prefácio.
- A sério?
- Não, por acaso ainda se riu bastante.
- Depois o António Lobo Xavier...
- O terceiro livro, sim. Noite memorável no Museu do Fado. Sem esquecer
outro Grã-Guru, o P. Vasco Pinto de Magalhães, em Serralves.
- E o grande Barbosa de Melo filho no Laboratório Chimico em Coimbra, a
dar outro sentido aos anos que lá passei a ouvir falar de colunas de
destilação.
- Fora os outros grandes Dalaitores, até ao mais pequeno, que fazem jus
ao lema de que é muito difícil entrar na DalaiLista, mas mais difícil ainda
sair.
- No início ainda houve uns amigos do Quimpê, benfiquistas, que pediram
para sair, é verdade, num daqueles festivais de fustigação do Dalai?
- Já não me lembro, SôZé. Há muita coisa de que eu já não me lembro,
Sô... Sô...
- Zé.
- Isso.
- Dê cá mais vinte.