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terça-feira, 3 de maio de 2011

Caminhar


Ainda menino, quando só podia conhecer as belezas da minha cidade da janela do carro dos meus pais, via-o aonde quer que fosse, no seu passo apressado de coelho do País das Maravilhas.
Adolescente, encartado precocemente, dono de viatura, quando percorria as vias, sempre o encontrava, caminhando determinado, como que marcando-me à zona, olhos no chão, cabeça, onde, só ele saberia.
Adulto feito, preso por compromissos a um escritório, mas sempre amante de uma boa voltinha a ver o que mudava na minha terra, lá encontrava a cada esquina o meu colega caminheiro, baixando o vidro para lhe observar as rotas cada vez mais alargadas, mas sempre divagando ao ritmo imutável dos seus passos.
Nos meus passeios de reformado, da janela do autocarro que percorria o perímetro urbano cada vez mais alargado, sempre o avistava, mais lento, talvez, mas sempre perseguindo a sua meta que só ele conheceria.
Hoje, com os meus noventa anos, preso na cama do lar onde o destino me confinou, dizem-me os netos que ele prossegue, prossegue sempre, hoje aqui, amanhã ali, passo ritmo, passada curta, sempre incansável.
Andar a pé faz mesmo bem à saúde.